O choque ibérico entre a placa tectônica africana e a europeia.

O Terramoto de 1755” Pintura a óleo sobre tela elaborada ao longo de 35 anos (1756 a 1792), pelo pintor português do período do Neoclassicismo João Glama Ströberle, atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa

Ás 09:40 do dia 1 de Novembro de 1755, sábado, o tempo estava demasiado quente para a época, quando se ouviu um “estrondo subterrâneo que durou o tempo da vibração soando como um trovão ao longe” e, logo a seguir o grande abalo, com uma duração de um minuto e meio. Depois de uma pausa de 1 minuto, veio um outro estrondo a acompanhar outro movimento mais intenso com duração de dois minutos e meio. Por último, e depois de outro intervalo de 1 minuto, seguiu-se a terceiro, com uma duração de 3 minutos, mais violento que o anterior. O abalo durou, cerca de 9 minutos.

Durante as 24 horas que se seguiram ao abalo principal a terra tremeu várias vezes. A primeira réplica, bastante violenta mas de menor duração, registou-se às 11 horas. Nos primeiros oito dias sentiram-se mais de 28 réplicas, com 250 réplicas nos primeiros 6 meses e 500 até Setembro de 1756.

Mas, para nos enquadrarmos melhor, vamos começar do início.

A parte antiga da Península Ibérica (onde hoje se situa Portugal e Espanha), emergiu do oceano, durante a Era Secundária (entre 251 a 65 milhões de anos atrás).

Durante o Cenozoico (entre 65 milhões de anos até à 500 mil anos atrás) a formação dos Alpes afetou o antigo Maciço Hespérico (antiga cordilheira formada após a colisão do Continente Laurásia com o continente Gondwana) alterando a sua morfologia. Esse conjunto de processos, teve como consequência o choque entre a placa tectônica africana e a europeia.

Devido a este contexto tectônico, os territórios português e espanhol, encontram-se uma zona de sismicidade importante.

A sismicidade, em Portugal, não é, normalmente, nem muito intensa, nem muito frequente. No entanto, o território tem sido atingido por diversos sismos com elevada magnitude e intensidade, tendo sido registados eventos desde há mais de dois milênios.

O sismo mais antigo conhecido, teria ocorrido em 63 a.C., afetando as costas atuais portuguesa e da Galiza (a Norte de Portugal). Teria sido acompanhado por um tsunami de grande envergadura.

Em 382 d.C. há notícia de outro grande sismo, com epicentro provável a Sudoeste do cabo de São Vicente (sul de Portugal), havendo relatos da ocorrência de um grande tsunami e desaparecimento de ilhas que existiriam ao largo do referido cabo.

Outro sismo histórico importante foi o que ocorreu em 24 de agosto de 1356, que foi sentido em toda a Península Ibérica, tendo atingido em Portugal intensidade semelhante ao de 1755.

A maioria dos cientistas, localiza a área epicentral de alguns dos sismos históricos mais importantes que afetaram o território português, no mar a sudoeste do Cabo de São Vicente, na região do Banco do Gorringe.

O Banco do Gorringe é um fragmento de crosta oceânica e de manto infra-oceânico extraído de terra antes do Cretáceo Inferior (entre 145 e 99 milhões de anos).

O epicentro do sismo de 1 de novembro de 1755 (o mais destruidor em Portugal, desde que há registos, e considerado com um dos mais poderosos e energéticos a nível mundial, por a duração do sismo ter sido extremamente longa, com magnitude estimada entre os 8,75 e os 9,1) tem sido localizado, tradicionalmente, no Banco do Gorringe. Todavia, estudos recentes, baseados designadamente na análise do tsunami gerado pelo sismo, apontam para uma hipótese de rotura múltipla numa falha na região do Gorringe, e noutra orientada em direção a Lisboa (falha do Marquês de Pombal).

Existem registros diretos dos seus efeitos, inclusive no norte de África, Norte da Europa e continente americano.

Também se sentiu no Recife (Brasil) onde as vagas destruíram cabanas de pescadores.

Deste sismo, resultou a quase completa destruição da Cidade de Lisboa, parte do litoral e todo o sul de Portugal, sobretudo o Algarve, bem como de vastas regiões do sul de Espanha. Este sismo originou o maior tsunami que alguma vez atingiu a Península Ibérica, e um dos maiores registrados a nível mundial- que se crê tenha atingido a altura de 30 metros em alguns locais.

É interessante mencionar de que, no “Arquivo Nacional da Torre do Tombo”, existem documentos onde estão registadas observações feitas por um piloto (de navio) de que “a 31 de Outubro (um dia antes do terramoto), a maré se atrasou mais de duas horas”, e que o mesmo, a verificar a repetição do mesmo acontecimento no dia 10 de Dezembro, andou a gritar pelos bairros de Lisboa “para que nessa noite ninguém ficasse debaixo de telha porque poderia haver algum tremor de terra”. Esta profecia parece ter acertado porque, no dia 11 de Dezembro pelas 04:55 da manhã, a terra tremeu duas vezes, com violência.

Dentre a imensidão de perdas, seja em vidas humanas, seja em patrimônio histórico, saliento os dos registros históricos das viagens de Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio e o precioso Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica.

Como consequência direta deste enorme cataclismo, o Marquês do Pombal ordenou um inquérito, enviado a todas as paróquias do País, para apurar a ocorrência e efeitos do sismo e é hoje considerada a primeira iniciativa de descrição objetiva no campo da sismologia, razão pela qual é considerado um precursor da ciência da sismologia.

Recentemente, e no seguimento de um estudo científico realizado por uma equipa norte americana da Universidade de Hartford, nos pântanos do Parque Nacional de Doñana (a pouco mais de 60 km da fronteira de Portugal), na região de Cádis (em castelhano: Cádiz), Sul de Espanha, surgiu uma teoria que defende que a mítica Cidade de Atlântida ficou submersa depois de ter sido atingida por um poderoso tsunami, à cerca de nove mil anos atrás.

No entanto, segundo os responsáveis por aquele estudo, esta descoberta não será a da Atlântida original, mas uma cidade feita à sua imagem por sobreviventes da cidade original. Recorde-se que - segundo Platão, filósofo grego que fez os primeiros relatos que se conhecem sobre Atlântida no ano 360 A.C, no diálogo "Timeu e Crítias" - a cidade "desapareceu de um dia para o outro para as profundezas do oceano", e localizava-se em frente aos "Pilares de Hércules", nome pelo qual era conhecido o Estreito de Gibraltar.

O último grande terramoto que provocou danos no território continental português foi o de 28 de fevereiro de 1969, que teve epicentro na zona do Gorringe e magnitude estimada entre 6,5 e 7,5.




Letras para a Posteridade coletadas por
ANTÓNIO CUNHA

Outras intervenções:


Comentários

Mensagens populares