10 de junho: Bahia Portugal - Pontos que nos Unem
A 10 de junho de 1580, morre em absoluta pobreza, Luís
Vaz de Camões.
Luís de Camões (1524-1580) é [ainda hoje]
considerado o maior poeta da língua portuguesa, autor (entre outros) do poema
"Os Lusíadas", uma das
obras mais importantes da literatura Universal. Nesse poema, fundem-se
elementos épicos e líricos que sintetizam as principais marcas do Renascimento
Português: o humanismo e as expedições ultramarinas.
Poeta erudito do Renascimento, revela através
dos seus poemas, uma sensibilidade para os dramas humanos, amorosos ou
existenciais.
Amor
é fogo que arde sem se ver;
É
ferida que dói e não se sente;
É
um contentamento descontente;
É
dor que desatina sem doer;
...
Para além do seu dom literário, o poeta também
esteve fisicamente em várias partes do globo terrestre. A dor da perda de uma
das suas amadas (a jovem chinesa Dinamene,
que morreu em consequência de um naufrágio), fá-lo escrever alguns sonetos
lamentando a sua morte.
Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem
não deixara nunca de querer-te!
Ah!
Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão
asinha esta vida desprezaste!
...
Banhada por vários oceanos e continentes, a Língua Portuguesa está inegavelmente abraçada pelo mar, numa descontinuidade linguística, enriquecida, miscigenada pelos muitos espaços geográficos que foi capaz de atravessar. Sua importância revela-se nos 260 milhões de falantes em quatro continentes, como identidade e ferramenta para ler o mundo e organizar o pensamento.
No dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas, para além da homenagem ao desaparecimento físico daquele poeta, comemora-se também o dia de Portugal como país global e universal, da língua portuguesa como ponto de união de milhões de pessoas à escala planetária, bem como, das suas muitas
comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
Como resultado, todos os anos, o Presidente da República
Portuguesa em exercício, elege uma cidade para ser sede das comemorações
oficiais.
Em 2016, as comemorações oficiais decorreram, pela
primeira vez, em duas cidades ao mesmo tempo: Lisboa e Paris. Foi também a
primeira vez que as comemorações oficiais aconteceram numa cidade fora de
Portugal.
Em 2017, as comemorações oficiais decorreram na
cidade do Porto e nas cidades brasileiras do Rio de Janeiro e de São Paulo. Foi
também a primeira vez que as comemorações decorreram fora do continente europeu.
Este ano, as comemorações dividem-se entre
Ponta Delgada (Açores) e Boston (EUA).
O atual Presidente da República Português, Marcelo
Rebelo de Sousa, escolheu Onésimo
Teotónio Almeida para presidir às comemorações do 10 de Junho.
Onésimo
Teotónio Almeida, natural dos Açores, é escritor, doutorado em
Filosofia e professor no departamento de estudos Portugueses e Brasileiros da
Brown University (Estados Unidos).
"Aprecio
o gesto e colaborarei", reagiu Onésimo Teotónio de Almeida, em
declarações à RTP. "Tenho, durante
toda a vida, lutado pela afirmação da comunidade açoriana e da comunidade
portuguesa nos EUA e isto é um reconhecimento. Hoje essa comunidade é uma
comunidade adulta, integrada, ligada aos EUA mas também, a Portugal",
completou.
Autor de uma extensa obra, Onésimo Teotónio de
Almeida dedicou uma grande parte da sua vida a escrever sobre a portugalidade e
sobre o que é ser português. Os títulos A
Obsessão da Portugalidade (lançado em 2017, pela Quetzal) e Pessoa, Portugal e o Futuro (lançado em
2014, pela Gradiva) são apenas alguns exemplos.
Numa entrevista ao jornal PÚBLICO, em 2014, afirmou
que só compreendeu Portugal e a portugalidade "na diáspora": "ver
os emigrantes no embate diário com o universo anglo-americano permitiu-me
observar os conflitos de valores, de visões do mundo em ação."
“Costumo dizer: quando fui para a Terceira,
percebi que era micaelense. Na Madeira, senti-me açoriano. Em Lisboa, vi que
era insular. Em Espanha, reconheci-me português. Em Paris, já era ibérico. Nos
EUA, europeu. Na China, achei-me decididamente ocidental. Se um dia for a
Marte, hei-de sentir-me terrestre”.
Também em Salvador (Bahia), se estão a realizar várias efemérides em homenagem ao espirito daquelas comemorações.
Na capital baiana, a iniciativa visa estreitar ainda mais os laços entre o Brasil e Portugal, no ano em que Salvador foi eleita Capital da Cultura dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), se comemoram os 210 anos da chegada da Família Real à capital baiana e acontece o primeiro centenário do edifício do Gabinete Português de Leitura, um dos últimos representantes do neomanuelino no Brasil.
Este é, sem dúvida, um momento único que estamos vivendo.
Concepção, súmula e edição do texto: António Pinho da Cunha
ANTÓNIO CUNHA
Letras para a Posteridade
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