CONVERSAR sobre política, mesmo que não concorde


VIRTUDES E VALORES
Como CONVERSARMOS sobre política sem discutirmos, mesmo que não concordemos.

A confiança é uma via de mão dupla. Se eu quero exprimir-me de forma a que seja escutado, também tenho que mostrar interesse em ouvir o ponto de vista dos outros.

Tenho que ser honesto!
O que me faz entrar num debate sobre política: o desejo de compreender ou a vontade de persuadir?

Não posso ser intolerante
Intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões, ou seja, é a ausência de disposição para aceitar pessoas com pontos de vista diferentes. Pesquisas neurológicas mostram que, se é difícil mudar a nossa forma de pensar, será ainda mais tentarmos a mudança em outra pessoa.

Quando fico intransigente diante de pontos de vista alternativos, está na hora de mudar isso. Nessa altura, tenho que fazer perguntas e lembrar-me que, convicções políticas são influenciadas pelas experiências vividas. Elas também dependem do que cada um de nós sentiu quando – por exemplo - se sentiu usado pelos políticos.

Mostrar respeito
O respeito é mais importante que a tolerância. Respeitar outra pessoa é abster-se de insultá-la, usando interrupções frequentes para falar sobre ela ou deixá-la perplexa. Isso também significa revezar-se, de modo a permitir que essa pessoa responda à minha pergunta. Mostrar respeito significa que eu aceito que a outra pessoa tenha feito escolhas para o que acha que são boas razões e, como consequência, que eu concedo a ela, o direito de ela expressar as suas opiniões. A grande maioria das pessoas que eu conheço, acredita que os seus candidatos – sejam eles quais forem - ou as políticas desses seus candidatos, tornarão o mundo um lugar melhor. Essas pessoas, com as quais eu discordo, estão também a tentar alcançar um resultado positivo, tal como eu.

Até a intolerância tem o seu lado positivo: 
- Não tolerar a corrupção, mentiras, injustiça, desigualdade, faz parte de um movimento evoluído a favor de uma sociedade melhor;
- No entanto, a falta de tolerância encontra o “lado negro da força” quando se fixa na negação da existência do outro, quando falta a capacidade de lidar com diferentes modos de pensar. 

É muito comum que algumas pessoas, num contexto de forte discordância de ideias, apelidem a outra de “radical”, ou “extremista”, “fundamentalista” ou “fanático”. 

Normalmente, essas acusações dão a entender que “radical”, "extremista”, “fundamentalista” e “fanático” são sinônimos. É normal que isso aconteça, já que a diferença é pouca, por vezes quase imperceptível. Não é uma diferença que salta aos olhos, como preto no branco. Mas ela existe, e precisa ser observada no nosso “bom português”.

Radical
Ser radical significa que há uma espécie de ruptura com uma linha de pensamento, de modo a descartá-la por completo. Justamente por esse caráter forte, tal comportamento é chamado “radical”. Mas isso não significa que tal comportamento, ou concepção de ideia, tenha que ser danosa. Por exemplo, em relação ao Estado ser laico, ou não. Para o “mundo ocidental”, o Estado deve ser laico, de modo que a religião não tenha direito de intervir em questões políticas. Isso é ser radical, por contraste com alguns dos países da região do Oriente Médio [exemplo: Arábia Saudita; Iran...], onde é tolerado que a religião tenha que desempenhar influencias nas decisões políticas. Outro exemplo: a teoria da seleção natural, por Darwin...

Extremista
O extremista é aquele que pretende algo semelhante a essa ruptura total, porém de forma totalmente irracional e inflexível. Uma pessoa extremista posiciona-se no ponto mais extremo de uma ideia. Para um extremista, o objetivo de um diálogo tem o interesse único e exclusivo de refutar e contra argumentar, nunca para assimilar, entender e ou acrescentar a si mesmo tais ideias. O extremista não muda o que pensa, não sai do seu posicionamento original, não reconhece equívocos (mesmo que óbvios e claros) e nunca está disposto a se transformar e modificar. O debate para o extremista é sempre puramente retórico, ou seja, é um mero embate de ideias, onde um tenta convencer o outro de seu ponto de vista, e nunca discutir uma ideia na busca de um consenso reflexivo.

Fundamentalista
O Fundamentalista acredita nos seus dogmas como verdade absoluta, indiscutível. Fundamentalismo "é um movimento que objetiva voltar ao que são considerados princípios vigentes na fundação do determinado grupo". No estudo comparativo das religiões e etnias, fundamentalismo pode se referir a movimentos “anti modernistas” nas várias religiões.

Fanático
Fanatismo é um estado psicológico de fervor excessivo, irracional e persistente por qualquer coisa ou tema, onde a conduta da pessoa é marcada por uma absoluta intolerância para com todos os que não compartilhem as suas ideias. É extremamente frequente em paranoias, cuja apaixonada adesão a uma causa pode aproximar-se do delírio.

De um modo geral, o fanático tem uma visão-de-mundo unilateral, rígida, cultivando a dicotomia bem/mal, onde o mal reside naquilo e naqueles que contrariam o seu modo de pensar, levando-o a adotar condutas irracionais e agressivas que podem, inclusive, chegar a extremos perigosos, como o recurso à violência para impor a sua forma de pensar.

Em Psicologia, os fanáticos são descritos como indivíduos dotados das seguintes características:

1. Agressividade excessiva ;
2. Preconceitos variados;
3. Estreiteza mental;
4. Extrema credulidade quanto a um determinado "sistema"
5. Ódio;
6. Sistema subjetivo de valores;
7. Intenso individualismo;
8. Demora excessivamente prolongada em determinada situação/circunstância.


Quando discordamos de alguém, em vez de apontarmos os seus erros, poderemos optar por descobrir mais sobre essa pessoa. É nesta escolha que conseguiremos com que uma conversa se torne agradável e fecunda.

Pode ser que discordemos sobre as soluções, mas que concordemos e compartilhemos as mesmas esperanças e aspirações. 

Agradeço por ter me dado a oportunidade de me expressar de forma honesta e autêntica.


Concepção, súmula e edição do texto: António Pinho da Cunha



Letras para a Posteridade coletadas por
ANTÓNIO CUNHA

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